sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

GERAÇÃO CISÃO


Quem nasceu depois do primeiro título de Emerson Fittipaldi na Fórmula Indy, que aconteceu em 1989 e é fã da categoria de monopostos de origem norte-americana pertence à “Geração Cisão”.
Que diabos é esse negócio de “Geração Cisão”?

Se uma pessoa hoje tem menos de 20 anos e é fã de automobilismo, podemos supor que antes dos 7 ou 8 anos de idade ela certamente não acompanhava as corridas entendo bem tudo que se passava. Eu mesmo só comecei a acompanhar a Fórmula 1 com 9 anos e a F-Indy com 12 anos. Pertenço à “Geração Cisão” pelo fato de que os anos mais intensos de que acompanhei a categoria se deu de 1995 para cá.

Em fins de 1995 aconteceu a cisão na Fórmula Indy, com a criação da Indy Racing League capitaneada por Tony George, herdeiro de Tony Hulman e dono do Indianápolis Motor Speedway. Já em 1996 era possível assistir no SBT as corridas da F-Indy da CART, e na Band as corridas da F-Indy da IRL.

Esta situação, da existência de duas Fórmulas Indys durou 12 anos... Longos 12 anos...

Tempo o suficiente para alguém de 15 anos estar com 27 anos hoje, como eu. Alguém mais novo, de 7 anos, hoje já tem 19 anos e entrando na fase adulta. São os anos onde a gente cresce, amadurece, entende mais o mundo e as coisas que gostamos. E no caso de uma categoria de automobilismo, pode até mesmo ser tempo suficiente para consolidarmos alguns conceitos.

Quem chegou a ver a Fórmula Indy na Band, Manchete ou SBT antes da cisão hoje não tem menos do que 20 anos de idade, e portanto, pode até achar estranho que hoje, em 2008, finalmente exista uma só Fórmula Indy, tamanho o tempo, e período tão importante da vida desta pessoa, que ela cresceu achando “natural” a existência de duas categorias rivais de monopostos nos EUA. Como se “sempre tivesse sido assim”, e acaba até se tornando um padrão para ela.

Mas não foi sempre assim, e esses 12 anos foram exceção à regra. Uma categoria quase centenária (e que agora já pode-se dizer que seja centenária, embora o primeiro campeonato só foi homologado em 1916, mas retroagindo campeões de 1902 até 1915) de repente se dividiu em duas, reeditando o que ocorreu em 1979. Mas naquele ano, a divisão durou só 1 ano, e logo a CART deu um nocaute na USAC. Mas quem perdeu, a USAC, não engoliu a derrota, e esperou o melhor momento da rival, o amadurecimento do herdeiro de Tony Hulman, e um financiamento externo de Bernie Ecclestone para provocar o racha.

O que era a F-Indy mais forte de então, a CART, permaneceu a mais forte até o final de 2001. Então, nos primeiros anos da “Geração Cisão” ainda era possível acompanhar uma categoria forte que proporcionava um belo espetáculo. O problema foi de 2001 em diante.

Nos EUA a IRL estava crescendo muito e “sugando” o que a CART tinha de bom. Desde fornecedores de motores, que levavam consigo as melhores equipes, pilotos e patrocinadores, bem como os eventos, onde várias pistas ovais também migraram de uma categoria para a outra.

Aqui no Brasil, além de termos perdido nossa corrida da CART no Rio de Janeiro, enfrentamos anos de instabilidades quanto às transmissões televisivas, tendo a CART/ChampCar, enfraquecida, pulando de uma TV mais fraca que a outra, enquanto a IRL passava alguns anos com corridas transmitidas por TV a cabo, na Sportv, e só a partir de 2005 é que a Band volta a transmitir a categoria de Tony George, que a emissora dos Saad havia dado tanta atenção nos primeiros anos de existência da liga rival da CART. Foram anos difíceis.

Com a estabilização do quadro de divisão das categorias entre 2003 e 2007, sendo a IRL a Indy mais forte e a CART/ChampCar a Indy mais fraca pela sua decadência, essa consolidação da idéia de divisão se reforçou. Infelizmente.

Se no final dos anos 90 era possível acompanhar a Indy/CART no SBT tendo a imagem de uma categoria fortíssima, e pouco se abalando pela existência da IRL na Band, a coisa mudou na década de 2000. Era difícil acompanhar a IRL, agora mais forte, na Band, sem se lembrar do que tinha sido a CART no final dos anos 90.

Por isso a cisão não fez bem para ninguém, e quem mais saiu prejudicado com tudo isto foram os fãs, que inclusive se dividiram, tanto na América do Norte, quando aqui no Brasil. Não é raro encontrar algum fã de automobilismo mais “purista” que é saudisista da agora extinta CART e que vocifera contra Tony George e a IRL. Bem como existem os que aceitaram a migração de forças para a IRL sem preconceitos e não hesitam em definir a CART dos últimos anos como decadente.

Justamente por essa divisão de forças e de paixões que todos nós temos que comemorar essa fusão. Estava na cara que a CART não recuperaria mais o terreno perdido e que uma possível fusão se daria a favor da IRL, essa evidência existia desde fins de 2003. As 500 Milhas de Indianápolis são o fiel da balança, e ela estava sob poder de Tony George e da IRL, o que decidiu a questão. E que o jeito é aceitar a história como ela ocorreu.

Do mesmo modo que eu, fã da história centenária das Indycars, não queria que tivesse tido uma cisão de 12 anos bem no período mais intenso que acompanhei a categoria, mas procurei aceitar isso e agora olho para frente, para o futuro, os fãs que não aceitaram a derrota da CART e a vitória da IRL também aceitem o que ocorreu e bola para a frente. Agora a Indy aponta para um novo caminho, unida, onde todos os fãs possam juntos voltar a faze-la grandiosa e com o mesmo espetáculo que ainda tem por mais 100 anos!

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