sábado, 20 de dezembro de 2008

O CAMINHO PARA TONY GEORGE



Há quem me chame de “TGista”, como um termo de cunho partidário a favor do atual dono da Fórmula Indy. Mas não é bem assim. Apenas não tenho preconceito contra o cara que resgatou o controle da Fórmula Indy para a sua família, tomando-a das mãos de quem se aproveitou do momento de fragilidade da categoria no final dos anos 70, mesmo tendo para isso ele teve que fazer uma cisão que durou 12 anos.

Para quem não sabe, até 2002 eu era partidário da CART, e achava a IRL uma categoria “tosca”, apenas reconheci que a IRL estava ganhando, e de fato venceu a briga das duas Fórmulas Indys.

O que acho mais absurdo, e de vez em quando aparece alguém falando isso, é que o Tony George vai “vender a IRL, vender Indianápolis” ou que “a IRL vai falir”.

Como que alguém que mergulha de cabeça em um projeto difícil, caro e desgastante, de criar uma nova categoria de Indycars, e fica 12 anos na luta para enfim conseguir ter o controle total da Indy, iria largar o osso de uma hora para a outra, sem mais nem menos?

Agora que ele lutou tanto para ter a Indy em suas mãos é que o cara vai fincar o pé onde está, e não sair da posição que ocupa de jeito nenhum.

Então com certeza não passa, ainda mais agora depois da fusão, pela cabeça de Anton Hulman George a idéia de vender algo que possui. Pois o que ele tem hoje é um instrumento de poder ainda maior para amanhã.

E por ter brigado tanto, e vencido, que o TG vai saber dar valor ao que tem, e não vai deixar nada falir, mesmo neste momento de crise econômica.

Talvez o que eu estou escrevendo neste texto um dia seja traduzido para o inglês e possa chegar até a caixa de mensagens do e-mail pessoal de Tony George, que já aviso desconhecer o endereço, e que ele possa ler e refletir sobre o conteúdo.

Como fã, e analisando o histórico da evolução das categorias de automobilismo americanas, e até mesmo mundiais, o que o Tony George deve fazer daqui para a frente:

* Manter os custos baixos. Essa é a regra número 1 do automobilismo nesses tempos de crise econômica.

* Na troca de regulamento técnico, prevista para 2011, procurar um meio para que a categoria possa ter diversos fornecedores diferentes de chassis e motores com os menores custos possíveis.

* A idéia do motor-padrão da Fórmula 1, que está em calorosa discussão naquela categoria em fins de 2008, se aplica muito bem na Fórmula Indy, com a permissão de alteração mínima pelas montadoras para que cada uma dê a sua característica ao propulsor e possa batiza-lo com o seu nome.

* Com relação aos chassis, também. Um regulamento extremamente específico que dificulte o surgimento de chassis de marcas diferentes com performances desiguais. E uma regra onde os custos para desenvolvimento dos equipamentos seja extremamente restrito. Essa seria a fórmula para criar uma categoria multi-marcas de baixo custo.

* Com base no sucesso da Nascar (sim, copiar é preciso), Tony George, que agora será o “Bill France da Fórmula Indy” precisará de um calendário estável, com datas estáveis, e na qual alguns circuitos sejam de sua propriedade para demarcar o seu “feudo”. France começou construindo Daytona em 1959, a “Indianápolis da Nascar”, fez Talladega em 1969, outro imenso sucesso. Depois seu império foi adquirindo pistas, como Darlington em 1982, Watkins Glen em 1983, Richmond em 1999, e outras que vieram após a fusão com Roger Penske em 2000, como Michigan, Fontana e Homestead.

* Que tal começar com um ousado projeto de circuito oval nas proximidades de Nova York e outro em Seattle? São dois mercados que a Nascar cobiça muito, e que se a F-Indy conseguisse antes seria uma bela oportunidade de avançar mais pontos. É certo que George entrou de sócio na construção do oval da Disney nos anos 90, que não deu muito certo, mas valeu pela ousadia, e recentemente também fez o mesmo negócio no oval de Chicagoland, que deu certo, embora vendeu sua parte para o “império das pistas”, a International Speedway Corp., da Nascar, mas é importante que George ao menos tente alguma aliança onde o negócio dessas construções se torne possível.

* George precisa construir o seu próprio império de pistas, para competir com a ISC da Nascar. Mas enquanto isso uma aliança com Bruton Smith, dono da Speedway Motorsports Inc. seria interessante, já que ele possui pistas em mercados interessantes e onde a IRL no momento não corre, como Las Vegas, Atlanta e New Hampshire.

* Após consolidar um campeonato estável, de baixo custo, mantendo a presença de pilotos internacionais e também com talentos americanos vencendo, onde os patrocinadores já estarão voltando após o fim da crise econômica internacional, e construindo um império de pistas que mantenha o calendário estável, George deve buscar um enfrentamento com a Nascar, para ganhar mercado desta. Ganhar mercado, mas não eliminar a Nascar da face da Terra, que fique bem claro.

* Este é o ponto mais polêmico, pois muitos alegam que a Nascar não deve ser enfrentada, porém discordo deles, acredito que com responsabilidade você deve enfrentar seu maior adversário, tal como o próprio George fez contra a CART nos anos 90 e 2000, e venceu a guerra. Para quem já tem experiência no assunto, encarar uma nova disputa não será tão complicado.

* Após concluir as etapas anteriormente citadas, George precisará estreitar laços com Bruton Smith, para que este possa ir se afastando lentamente da Nascar, e ambos possam aproveitar o poder que tem nas mãos para deixar a Nascar de refém deles.

* O primeiro ato seria com relação à Brickyard 400, a anual corrida da Nascar no Indianápolis Motor Speedway, que de 1994 para cá ajudou George em aumentar a receita de seu “speedway”, e dinheiro este que foi valioso na guerra contra a CART. Agora que a CART já foi vencida, ele pode descartar esta corrida, já que hoje serve mais para engrandecer a Nascar do que ao seu próprio campeonato de monopostos. Mas para isto é importante um forte pretexto.

* Uma coisa que incomoda as 500 Milhas de Indianápolis há muitos anos é a existência da “Coca-Cola 600”, a corrida da Nascar no Lowe’s Motor Speedway (Charlotte). Olhando bem, aí está um ponto de fragilidade da Nascar nesta corrida que foi criada em 1960 justamente para competir contra Indianápolis. O circuito oval de Charlotte pertence justamente á Bruton Smith, e não à ISC dos France. Estreitando laços com Smith, é possível que George consiga daquele uma mudança de data da tradicional corrida da Nascar, para a noite de sábado, ou para 1 semana antes. Algo que não concorra diretamente com a prova mais importante e tradicional dos monopostos.

* Caso a Nascar se recuse a mudar a data da Charlotte 600, Smith e George, em aliança, poderiam retirar várias corridas de pistas de sua propriedade do calendário da Nascar, incluindo a própria Charlotte, e aí a Nascar se veria com as calças na mão em uma situação complicada.

* Das duas uma: Ou George e Smith se juntam, ou o império dos France os engolem, pois continuam comprando pistas aos montes nos EUA. Lembrar que durante 2008 foi a própria SMI (Speedway Motorsports Inc., de propriedade de Bruton Smith) quem procurou a IRL para uma proposta de 5 corridas em seus autódromos a partir de 2010, reconhecendo a importância da categoria de George. É hora de selarem uma aliança contra a Nascar/ISC.

* Após conseguirem apenas estancar o crescimento da Nascar, e recuperarem terreno para a Fórmula Indy nos EUA, é a vez do resto do mundo, e para isso a briga terá que ser contra aquele que um dia temeu a ameaça da CART: Bernie Ecclestone.

* Foi muito bom que a Fórmula 1 enfim deixou de correr em Indianápolis a partir de 2008, principalmente por causa do vexame de 2005 que dificilmente será esquecido pelos fãs americanos de corridas. E agora que George não precisa mais da Fórmula 1 para aumentar a receita de seu autódromo (até porque, caso a Fórmula 1 volte, com as exigências financeiras irracionais de Ecclestone para os promotores de corridas, e com o filme da categoria queimado na América, é bem possível que um eventual GP dos EUA em Indianápolis acarrete PREJUÍZO para George), é hora de trabalhar nos bastidores para que a imunda e hipócrita categoria européia nunca mais volte ao solo americano, terra de corridas de verdade.

* Porque George e Smith tem que, juntos, trabalharem contra a volta da Fórmula 1 aos EUA? Simples, pois se a F-Indy ou Nascar tentarem correr na Europa, terra da F-1, com certeza Bernie Ecclestone estará por trás em alguma manobra para sabotar a “concorrência” dele.

* Após garantir os EUA para si, sem a ameaça da Fórmula 1, e com espaço recuperado frente à Nascar, é hora de garantir aqueles mercados consolidados para as corridas de Indycars fora dos EUA, alguns deles que já estão no calendário de 2009, como Canadá e Japão. Mas além deles, uma volta para o México é importante, pois a Nascar está ganhando mercado naquele país com o vácuo causado pelo fim da CART/ChampCar. Lembrar que o México recebe uma corrida da Segunda Divisão da Nascar, a Nationwide Series, e a Indy poderia dar tratamento melhor àquele país da América do Norte, com uma corrida da categoria principal dos monopostos norte-americanos.

* Até 2013 vai ser importante que a IRL trabalhe nos bastidores para afastar as ameaças da A1GP na região da Ásia/Pacífico, onde a F-Indy na época da CART (e mesmo agora, até 2008 após a reunificação) tinha a corrida em Surfer’s Paradise. Recuperá-la em um momento mais rico e forte da Indy seria importante para recuperar a honra, já que justo no momento em que pilotos da região se destacam na categoria de Tony George, como Ryan Briscoe, Will Power e Scott Dixon, seria importante ter um evento na Austrália novamente.

* A Europa e a América do Sul podem ser re-conquistadas. A primeira, fala-se, terá uma fornecedora de motores na F-Indy a partir de 2011, e como ela é alemã pode ser que a corrida em Lausitzring retorne. A América do Sul, leia-se o Brasil, segundo maior mercado da IRL fora dos EUA pela tradição vencedora de seus pilotos, seria um mercado a qual George deve cobiçar pelo potencial que tem. As corridas de seu campeonato são transmitidas por TV aberta (não consecutivamente) desde sua fundação, em 1996. O Brasil tem uma base muito boa de fãs de automobilismo, e “roubar” alguns fãs da Fórmula 1 deve ser tentado promovendo um evento com ingressos bem mais baratos que os cobrados pela Fórmula 1 em Interlagos, e exigindo da televisão (nem que seja subsidiando) um melhor tratamento para a categoria.

* Que tal Tony George e Bruton Smith pensarem em construir uma real pista oval no Brasil? O interior de São Paulo é um mercado de muito potencial pelo fato de não existirem autódromos, só tem o de Interlagos na capital, se soma a isto a imensa riqueza que o interior do estado mais populoso e rico do Brasil possui, e como fator que pode influenciar na decisão deles, o combustível usado pelos carros da IRL a partir de 2009 será importado justamente do interior paulista: o etanol brasileiro. Seria tema para uma “Coluna Viajando” aqui do Blog, mas o título da corrida bem que poderia ser “Brazilian Ethanol Indy 300” em algum “São Paulo Motor Speedway” construído às margens de alguma Rodovia dos Bandeirantes, Rodovia Castello-Branco, Rodovia Ayrton Senna/Carvalho Pinto...

Como é possível observar, Tony George ainda tem muitos desafios pela frente, muito mais do que os que teve até agora, e ele é jovem, tem 49 anos (completará 50 no final de 2009), e pelo menos mais uns 30 anos de carreira como manda-chuva da Fórmula Indy. Se pelo menos ele fizer uma parte disto que postei, podem ter certeza, a Indy estará recuperando seu charme e prestígio de outrora, e se tornará novamente a unânime segunda maior categoria do automobilismo mundial (embora atualmente muitos dão à ela este título, mas não é unanimidade), e com certeza a primeira colocada em corridas emocionantes para os fãs.

Um comentário:

  1. Pois é seu Antônio... seria muito bom que o seu TG retomasse uma pequena internacionalização da categoria. Agora que está tudo unificado, é hora de progredir. Do jeito que está, não vai durar muito tempo mesmo

    abraço!

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